09 março, 2010

Robot? Quem, eu?



Nestes dias de trevas em que vivemos, assaltados por infinitas informações de prognose catastrófica, li, no site do Diário de Notícias, uma entrevista ao investigador português Filipe Luig, cientista da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, na qual de forma surpreendente (pelo menos para mim) este afirma que, um dia, "(...) iremos ser mais biónicos, com circuitos electrónicos instalados no nosso cérebros que irão funcionar em conjunto com o nosso ADN. A evolução das máquinas irá obrigar a que o homem se torne ele, também, em algo que pode ser modificado. Acredito que poderemos assistir, dentro de 100 anos, ao nascimento da próxima evolução do homem: o cyber sapiens (...)".

Claro que, como os demais mortais, vivemos presos nos nossos quotidianos, sem ligarmos muita importância a algo que apenas se encontre num futuro que julgamos distante e ficcional.

No entanto, este tipo de notícias não podem deixar de surpreender e provocar alguma reflexão.

Desde logo, será este futuro assim tão distante?

A bionanotecnologia não é ficção científica. É uma realidade actual e em desenvolvimento cujos efeitos não são publicamente debatidos nem constitui preocupação corrente da generalidade das pessoas ou das instituições que nos governam. Digamos que não está na "agenda política".

Bastamo-nos com a esperança que esta tecnologia se dedique a servir a causa humana, na saúde ou em serviços de que possamos usufruir. Como exemplos, já se divulgam aplicações para criar telemóveis flexíveis compostos por ADN (!), ou em sondas ou sensores médicos.

E, no entanto, como será que nos devemos passar a classificar como espécie se o nosso próprio ADN passar a conviver integrado com equipamentos de ADN tipo mecânico? Por certo que a nossa estrutura identitária se alterará com implicações profundas do ponto de vista individual e social.

Ter-se-ão de impor limites à quantidade de ADN não humano a integrar numa dada pessoa? Mesmo estando em causa a própria vida? Se não, e a quantidade daquele passar, por absurdo, a ser superior à de ADN humano, será essa pessoa humana ou biónica?

O cinema e a tv estão repletos de máquinas a quem, no futuro, o Homem deu consciência humana e já, de certa forma, reflectem sobre estas questões, mas do ponto de vista da máquina.

O contrário não está pensado e cabe perguntar se não será chegada a altura de o fazermos.

A Lei de Moore diz que a capacidade de processamento dos chips duplica a cada 18 meses e estes diminuem de tamanho na ordem inversa.

Naquela entrevista, o mesmo investigador sustenta que "(...) prevendo a evolução da humanidade ao ritmo que actualmente temos, nos 90 anos que faltam para o fim do século iremos evoluir 20 mil anos (...)".

Não somos um elemento estático do Universo. Evoluímos tal como as demais espécies e, chegado o momento, deixaremos de existir tal como somos.

Parece que estamos já em plena fase de transição e não deveríamos esperar pelo facto consumado para reflectir sobre estas questões de modo aberto a toda a sociedade, apesar de não ser um tema premente. Talvez se devesse mesmo constituir uma Comissão de Ética para o efeito...

Morchella Esculenta

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