28 abril, 2010

Esforço, Dedicação, Devoção e Glória



Bem sei que ao escrever estas linhas dou o flanco à crítica de que, com tantas preocupações nacionais (os ratings, os pec's, os passos, sócrates, as medeiros e apaniguados), o futebol não é uma questão central.

Bem sei, mas tenho estado a matutar desde o início da época sobre o que pensar do actual estado do Sporting Clube de Portugal, de que sou adepto e, sinceramente, já não há paciência.

José Eduardo Bettencourt chegou à presidência do Clube em Junho do ano passado.

Na altura, o percurso do Sporting, desde que foi pela última vez campeão nacional (2001-2002), não era especialmente mau. Foi por quatro vezes vice-campeão e ganhou um punhado de taças de Portugal e Supertaças, tendo atingido ainda uma final da extinta Taça UEFA, aliás perdida de forma miserável.

Seria de esperar que o novo Presidente, dando continuidade ao projecto que vinha a ser seguido e tendo condições de estabilidade, conseguisse reforçar a equipa e, pelo menos, manter os resultados que vinham a ser conseguidos.

No entanto, além do desastre desportivo que foi esta época, o referido "Presidente" comporta-se como um total inimputável em matéria desportiva e dá sucessivos tiros no pé, contratando jogadores à toa, contratando e substituindo treinadores sem qualquer critério minimamente racional e trazendo malta ao Clube que não lembra a ninguém.

De facto, face ao naufrágio que já se adivinhava logo no início da época, seria de esperar que se montasse um plano estruturado para colocar a equipa principal sob a alçada de um treinador e directores com créditos reconhecidos e firmados, por forma a que não se passasse a vida em experiências e a contar com a "juventude" que tem servido apenas para dizer que o Clube é de "futuro".

Mas tudo bem. Agora vem o Paulo Sérgio (outro "jovem"), que não tem créditos nenhuns firmados na praça, mas a quem se deveria dar o benefício da dúvida. Alguns conseguirão. Pela minha parte já não consigo, sem prejuízo do senhor poder vir a revelar-se um novo Mourinho, Guardiola ou Ferguson em início de carreira.

O problema está em perceber que um clube de futebol não tem futuro quando possui um Presidente que, tendo dirigido a totalidade da época, venha dizer "A desgraça atrai desgraça e o Sporting, às tantas, mereceu a desgraça que atraiu. Houve coisas muito desagradáveis que aconteceram e que marcaram a época".

É inacreditável! Então o dito senhor onde esteve? Ah! Já sei, nos EUA, no Canadá, no Brasil de férias...

Eu diria mesmo, a desgraça é uma doença incapacitante de apelido Bettencourt e, se não se encontrar rapidamente um tratamento, parece que pode ser fatal.

A par disto e infelizmente, faleceu hoje um dos grandes símbolos do Sporting, o protagonista do "cantinho do Morais", que bem sabia e demonstrou respeitar e levar à prática o lema que deixo em título.

Pessoas da mesma massa é que parece já não se encontrarem naquilo que o clube se tornou.

E isso entristece-me bem mais que perder um campeonato.

15 março, 2010

The Pacific


Em Band of Brothers, Tom Hanks e Steven Spielberg trouxeram à luz do dia os feitos e desventuras de um conjunto de soldados norte-americanos que viveram alguns dos episódios mais marcantes ocorridos no território europeu no final da II Guerra Mundial, desde o dia D até à chegada a Berlim.

A série mostrou-se magistral em diversos aspectos, incluindo produção, realização, interpretação e direcção de actores, merecendo, por isso, o reconhecimento da crítica e do público, dando a conhecer uma Easy Company formada por homens normais, que, com as suas vidas e sangue, contribuíram para que o conflito tivesse o desfecho por todos conhecido.

Amanhã, com começo marcado para as 23h20, o canal AXN inicia a emissão do primeiro de dez episódios da série The Pacific, dos mesmos produtores.

Não se trata de uma continuação de Band of Brothers, mas do relato de algumas das principais batalhas ocorridas no teatro de operações do Pacífico, igualmente baseada em factos reais, focada na perspectiva de três marines que então pertenceram à 1ª Divisão de Marines,"The Old Breed".

Se esta série tiver metade das qualidades de Band of Brothers (e vem referenciada como tendo bem mais que isso), então a sua visualização é, mesmo, a não perder.


Morchella Esculenta

09 março, 2010

Eskrima

Desde Setembro que tenho vindo a praticar Kung Fu To'a da escola Flor de Lótus. Ainda estou, claro, numa fase muito inicial, apesar de sentir notórias melhorias ao nível da flexibilidade e da resistência, já para não falar do peso.

No passado mês de Fevereiro, por iniciativa do grupo a que pertenço, frequentei um seminário de uma arte marcial até ao momento para mim desconhecida, Eskrima.

Esta arte marcial, originária das Filipinas, dedicada ao treino da luta com bastão, espada ou facas, incluindo ainda uma vertente de "mãos abertas", terá cerca de 2000 anos de existência, com maior incidência a partir do século XVI, alturas de domínio espanhol sobre aquelas ilhas.

Trata-se de uma arte marcial extremamente eficaz e mortífera, baseada em técnicas simples apenas na aparência, revelando-se de extrema complexidade de execução, dado serem possíveis inúmeras combinações de golpes, bem como o uso de armas de diversas em simultâneo.

De acordo com alguma informação história que consegui recolher, a Eskrima terá origens, entre outros, no Kung Fu, Tai Chi e Wing Chung, bem como na esgrima espanhola.

Aliás, o próprio desenvolvimento da arte terá ocorrido com maior intensidade depois da ocupação das Filipinas pela Espanha de Filipe II (I de Portugal), do que resultou o seu baptismo com tal nome.

Com a ocupação, o sentido de nacionalismo começou a crescer e as técnicas mortais de combate com lâminas – já com séculos de desenvolvimento – começaram a ser utilizadas, levando a que o invasor proibisse os autóctones de usar espadas e facões.

Por isso, estes passaram a treinar com bastões de "rattan" (um material semelhante a um bambu), observando ainda os treinos dos espanhóis com armas, aprendendo as suas técnicas, somando-as aos movimentos nativos.

Assim, criaram um conjunto de técnicas, tácticas e estratégias ainda mais eficaz e letal para conflitos de vida ou morte. E acreditem, é mesmo de vida e de morte que se trata.

Os golpes feitos com os bastões em causa são extremamente dolorosos e incapacitantes e, por isso, na mão de um praticante de Eskrima, qualquer pau com cerca de 50 ou 60 cm pode tornar-se numa arma branca.

É claro que ninguém no seu perfeito juízo procurará aprender ou praticar uma arte marcial, seja ela qual for, para a poder utilizar de modo gratuito. Contudo, todas têm a sua vertente de defesa pessoal e, para situações mesmo sérias, esta é, com efeito, extremamente eficaz.

Da minha parte, pelo pouco que pude aprender, constatei que contribui para desenvolver em muito a coordenação motora e os reflexos e traz consigo um significado primitivo muito forte.

Tem em comum com outras artes marciais a exigência de conhecermos os nossos limites, forçá-los e aprender a não subestimar as nossas capacidades e, assim, por consequência, a respeitar qualquer adversário.

Complementarmente, liga-nos aos nossos instintos mais primários e procura equilibrá-los com a lucidez da razão, podendo combinar-se com técnicas de qualquer outra arte marcial.

Por isso, a quem tenha interesse, recomendo que observem o vídeo que segue e retirem as suas próprias conclusões. Da minha parte, recomendo.

Morchella Esculenta





Robot? Quem, eu?



Nestes dias de trevas em que vivemos, assaltados por infinitas informações de prognose catastrófica, li, no site do Diário de Notícias, uma entrevista ao investigador português Filipe Luig, cientista da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, na qual de forma surpreendente (pelo menos para mim) este afirma que, um dia, "(...) iremos ser mais biónicos, com circuitos electrónicos instalados no nosso cérebros que irão funcionar em conjunto com o nosso ADN. A evolução das máquinas irá obrigar a que o homem se torne ele, também, em algo que pode ser modificado. Acredito que poderemos assistir, dentro de 100 anos, ao nascimento da próxima evolução do homem: o cyber sapiens (...)".

Claro que, como os demais mortais, vivemos presos nos nossos quotidianos, sem ligarmos muita importância a algo que apenas se encontre num futuro que julgamos distante e ficcional.

No entanto, este tipo de notícias não podem deixar de surpreender e provocar alguma reflexão.

Desde logo, será este futuro assim tão distante?

A bionanotecnologia não é ficção científica. É uma realidade actual e em desenvolvimento cujos efeitos não são publicamente debatidos nem constitui preocupação corrente da generalidade das pessoas ou das instituições que nos governam. Digamos que não está na "agenda política".

Bastamo-nos com a esperança que esta tecnologia se dedique a servir a causa humana, na saúde ou em serviços de que possamos usufruir. Como exemplos, já se divulgam aplicações para criar telemóveis flexíveis compostos por ADN (!), ou em sondas ou sensores médicos.

E, no entanto, como será que nos devemos passar a classificar como espécie se o nosso próprio ADN passar a conviver integrado com equipamentos de ADN tipo mecânico? Por certo que a nossa estrutura identitária se alterará com implicações profundas do ponto de vista individual e social.

Ter-se-ão de impor limites à quantidade de ADN não humano a integrar numa dada pessoa? Mesmo estando em causa a própria vida? Se não, e a quantidade daquele passar, por absurdo, a ser superior à de ADN humano, será essa pessoa humana ou biónica?

O cinema e a tv estão repletos de máquinas a quem, no futuro, o Homem deu consciência humana e já, de certa forma, reflectem sobre estas questões, mas do ponto de vista da máquina.

O contrário não está pensado e cabe perguntar se não será chegada a altura de o fazermos.

A Lei de Moore diz que a capacidade de processamento dos chips duplica a cada 18 meses e estes diminuem de tamanho na ordem inversa.

Naquela entrevista, o mesmo investigador sustenta que "(...) prevendo a evolução da humanidade ao ritmo que actualmente temos, nos 90 anos que faltam para o fim do século iremos evoluir 20 mil anos (...)".

Não somos um elemento estático do Universo. Evoluímos tal como as demais espécies e, chegado o momento, deixaremos de existir tal como somos.

Parece que estamos já em plena fase de transição e não deveríamos esperar pelo facto consumado para reflectir sobre estas questões de modo aberto a toda a sociedade, apesar de não ser um tema premente. Talvez se devesse mesmo constituir uma Comissão de Ética para o efeito...

Morchella Esculenta

11 fevereiro, 2010

Brincadeirinhas de Carnaval



A comunicação social anda em alvoroço porque, alegadamente, alguns senhores do governo e da sua esfera de influências tentaram condicionar a liberdade de expressão dos media.

O caso fez renascer o fantasma da censura e chegou mesmo a ser exposto na praça pública europeia (que é como quem diz, no Parlamento Europeu) por Paulo Rangel.

Agastada com o tema do momento, e porque estamos em época carnavalesca, a comunicação social decidiu aliviar o tom sério que tem marcado as notícias, e publicou esta brincadeira deliciosa, sobre outro tema da sociedade portuguesa muitíssimo actual, em nada relacionado com a política nacional.


Primeiro, a música:



Agora, a brincadeirinha de Carnaval:

"Na 452º audiência do processo Casa Pia (cujo julgamento se iniciou no dia 25 de Novembro de 2004), Ferreira Diniz, Manuel Abrantes, Carlos Cruz e Jorge Ritto, pediram novas diligências de prova, entre as quais a audição de mais cerca de 300 testemunhas."

(Amanita Muscaria)

10 fevereiro, 2010

Ainda sobre o acordo ortográfico...

Na minha incursão sobre o tema do acordo ortográfico, quis saber qual era a opinião de um dos mais conceituados escritores lusófonos que usa de uma linguagem extremamente rica e muito fértil em neologismos, introduzindo uma série de termos e de expressões únicas, inventadas por si, para (melhor) descrever o seu mundo sonhado: Mia Couto.

Afirma o autor que o “acordo ortográfico não é necessário”.

Isto dito por alguém que goza da maior liberdade para (re)criar a língua portuguesa…

Para contextualizar esta posição, aqui fica um texto, do escritor, sobre o acordo ortográfico:

"Venho brincar aqui no Português, a língua. Não aquela que outros embandeiram. Mas a língua nossa, essa que dá gosto a gente namorar e que nos faz a nós, moçambicanos, ficarmos mais Moçambique. Que outros pretendam cavalgar o assunto para fins de cadeira e poleiro pouco me acarreta.A língua que eu quero é essa que perde função e se torna carícia. O que me apronta é o simples gosto da palavra, o mesmo que a asa sente aquando o voo. Meu desejo é desalisar a linguagem, colocando nela as quantas dimensões da Vida. E quantas são? Se a Vida tem é idimensões?Assim, embarco nesse gozo de ver como escrita e o mundo mutuamente se desobedecem. Meu anjo-da-guarda, felizmente, nunca me guardou.Uns nos acalentam: que nós estamos a sustentar maiores territórios da lusofonia. Nós estamos simplesmente ocupados a sermos. Outros nos acusam: nós estamos a desgastar a língua. Nos falta domínio, carecemos de técnica. Ora qual é a nossa elegância? Nenhuma, excepto a de irmos ajeitando o pé a um novo chão. Ou estaremos convidando o chão ao molde do pé? Questões que dariam para muita conferência, papelosas comunicações. Mas nós, aqui na mais meridional esquina do Sul, estamos exercendo é a ciência de sobreviver. Nós estamos deitando molho sobre pouca farinha a ver se o milagre dos pães se repete na periferia do mundo, neste sulbúrbio.No enquanto, defendemos o direito de não saber, o gosto de saborear ignorâncias. Entretanto, vamos criando uma língua apta para o futuro, veloz como a palmeira, que dança todas as brisas sem deslocar seu chão. Língua artesanal, plástica, fugidia a gramáticas.Esta obra de reinvenção não é operação exclusiva dos escritores e linguistas. Recriamos a língua na medida em que somos capazes de produzir um pensamento novo, um pensamento nosso. O idioma, afinal, o que é senão o ovo das galinhas de ouro?Estamos, sim, amando o indomesticável, aderindo ao invisível, procurando os outros tempos deste tempo. Precisamos, sim, de senso incomum. Pois, das leis da língua, alguém sabe as certezas delas?Ponho as minhas irreticências. Veja-se, num sumário exemplo, perguntas que se podem colocar à língua:
· Se pode dizer de um careca que tenha couro cabeludo?
· No caso de alguém dormir com homem de raça branca é então que se aplica a expressão: passar a noite em branco?
· A diferença entre um ás no volante ou um asno volante é apenas de ordem fonética?
· O mato desconhecido é que é o anonimato?
· O pequeno viaduto é um abreviaduto?
· Como é que o mecânico faz amor? Mecanicamente.
· Quem vive numa encruzilhada é um encruzilhéu?
· Se diz do brado de bicho que não dispõe de vértebras: o invertebrado?
· Tristeza do boi vem de ele não se lembrar que bicho foi na última reencarnação. Pois se ele, em anterior vida, beneficiou de chifre o que está ocorrendo não é uma reencornação?
· O elefante que nunca viu mar, sempre vivendo no rio: devia ter marfim ou riofim?
· Onde se esgotou a água se deve dizer: 'aquabou'?
· Não tendo sucedido em Maio mas em Março o que ele teve foi um desmaio ou um desmarço?
· Quando a paisagem é de admirar constrói-se um admiradouro?
· Mulher desdentada pode usar fio dental?
· A cascavel a quem saiu a casca fica só uma vel?
· As reservas de dinheiro são sempre finas. Será daí que vem o nome: 'finanças'?
· Um tufão pequeno: um tufinho?
· O cavalo duplamente linchado é aquele que relincha?
· Em águas doces alguém se pode salpicar?
· Adulto pratica adultério. E um menor: será que pratica minoritério?
· Um viciado no jogo de bilhar pode contrair bilharziose?
· Um gordo, tipo barril, é um barrilgudo?
· Borboleta que insiste em ser ninfa: é ela a tal ninfomaníaca?
Brincadeiras, brincriações. E é coisa que não se termina. Lembro a camponesa da Zambézia. Eu falo português corta-mato, dizia. Sim, isso que ela fazia é, afinal, trabalho de todos nós. Colocámos essoutro português - o nosso português - na travessia dos matos, fizemos com que ele se descalçasse pelos atalhos da savana.Nesse caminho lhe fomos somando colorações. Devolvemos cores que dela haviam sido desbotadas - o racionalismo trabalha que nem lixívia. Urge ainda adicionar-lhe músicas e enfeites, somar-lhe o volume da superstição e a graça da dança. É urgente recuperar brilhos antigos.Devolver a estrela ao planeta dormente"
.


(Amanita Muscaria)

08 fevereiro, 2010

Museu da Fundação Oriente



Ontem, pela primeira vez, fui ao Museu da Fundação Oriente.
Mais um antigo armazém das docas de Alcântara cujo espaço foi revitalizado e transformado numa ampla exposição sobre a presença portuguesa no Oriente e os Deuses da Ásia.
De entrada, duas exposições temporárias: a primeira, sobre a arte da xilografia, a segunda, sobre os selos portugueses no Oriente.
Trata-se de um espaço bem organizado contendo um vasto espólio de peças riquíssimas que vão desde máscaras do Myanmar, aos trajes dos Samurais, de maquetas de igrejas erigidas pelos portugueses em Goa, às divindades asiáticas.
De lamentar apenas a ausência de audiofones para possibilitar uma visita guiada a qualquer hora.

Opinião final: A não perder!

(Amanita Muscaria)