11 fevereiro, 2010

Brincadeirinhas de Carnaval



A comunicação social anda em alvoroço porque, alegadamente, alguns senhores do governo e da sua esfera de influências tentaram condicionar a liberdade de expressão dos media.

O caso fez renascer o fantasma da censura e chegou mesmo a ser exposto na praça pública europeia (que é como quem diz, no Parlamento Europeu) por Paulo Rangel.

Agastada com o tema do momento, e porque estamos em época carnavalesca, a comunicação social decidiu aliviar o tom sério que tem marcado as notícias, e publicou esta brincadeira deliciosa, sobre outro tema da sociedade portuguesa muitíssimo actual, em nada relacionado com a política nacional.


Primeiro, a música:



Agora, a brincadeirinha de Carnaval:

"Na 452º audiência do processo Casa Pia (cujo julgamento se iniciou no dia 25 de Novembro de 2004), Ferreira Diniz, Manuel Abrantes, Carlos Cruz e Jorge Ritto, pediram novas diligências de prova, entre as quais a audição de mais cerca de 300 testemunhas."

(Amanita Muscaria)

10 fevereiro, 2010

Ainda sobre o acordo ortográfico...

Na minha incursão sobre o tema do acordo ortográfico, quis saber qual era a opinião de um dos mais conceituados escritores lusófonos que usa de uma linguagem extremamente rica e muito fértil em neologismos, introduzindo uma série de termos e de expressões únicas, inventadas por si, para (melhor) descrever o seu mundo sonhado: Mia Couto.

Afirma o autor que o “acordo ortográfico não é necessário”.

Isto dito por alguém que goza da maior liberdade para (re)criar a língua portuguesa…

Para contextualizar esta posição, aqui fica um texto, do escritor, sobre o acordo ortográfico:

"Venho brincar aqui no Português, a língua. Não aquela que outros embandeiram. Mas a língua nossa, essa que dá gosto a gente namorar e que nos faz a nós, moçambicanos, ficarmos mais Moçambique. Que outros pretendam cavalgar o assunto para fins de cadeira e poleiro pouco me acarreta.A língua que eu quero é essa que perde função e se torna carícia. O que me apronta é o simples gosto da palavra, o mesmo que a asa sente aquando o voo. Meu desejo é desalisar a linguagem, colocando nela as quantas dimensões da Vida. E quantas são? Se a Vida tem é idimensões?Assim, embarco nesse gozo de ver como escrita e o mundo mutuamente se desobedecem. Meu anjo-da-guarda, felizmente, nunca me guardou.Uns nos acalentam: que nós estamos a sustentar maiores territórios da lusofonia. Nós estamos simplesmente ocupados a sermos. Outros nos acusam: nós estamos a desgastar a língua. Nos falta domínio, carecemos de técnica. Ora qual é a nossa elegância? Nenhuma, excepto a de irmos ajeitando o pé a um novo chão. Ou estaremos convidando o chão ao molde do pé? Questões que dariam para muita conferência, papelosas comunicações. Mas nós, aqui na mais meridional esquina do Sul, estamos exercendo é a ciência de sobreviver. Nós estamos deitando molho sobre pouca farinha a ver se o milagre dos pães se repete na periferia do mundo, neste sulbúrbio.No enquanto, defendemos o direito de não saber, o gosto de saborear ignorâncias. Entretanto, vamos criando uma língua apta para o futuro, veloz como a palmeira, que dança todas as brisas sem deslocar seu chão. Língua artesanal, plástica, fugidia a gramáticas.Esta obra de reinvenção não é operação exclusiva dos escritores e linguistas. Recriamos a língua na medida em que somos capazes de produzir um pensamento novo, um pensamento nosso. O idioma, afinal, o que é senão o ovo das galinhas de ouro?Estamos, sim, amando o indomesticável, aderindo ao invisível, procurando os outros tempos deste tempo. Precisamos, sim, de senso incomum. Pois, das leis da língua, alguém sabe as certezas delas?Ponho as minhas irreticências. Veja-se, num sumário exemplo, perguntas que se podem colocar à língua:
· Se pode dizer de um careca que tenha couro cabeludo?
· No caso de alguém dormir com homem de raça branca é então que se aplica a expressão: passar a noite em branco?
· A diferença entre um ás no volante ou um asno volante é apenas de ordem fonética?
· O mato desconhecido é que é o anonimato?
· O pequeno viaduto é um abreviaduto?
· Como é que o mecânico faz amor? Mecanicamente.
· Quem vive numa encruzilhada é um encruzilhéu?
· Se diz do brado de bicho que não dispõe de vértebras: o invertebrado?
· Tristeza do boi vem de ele não se lembrar que bicho foi na última reencarnação. Pois se ele, em anterior vida, beneficiou de chifre o que está ocorrendo não é uma reencornação?
· O elefante que nunca viu mar, sempre vivendo no rio: devia ter marfim ou riofim?
· Onde se esgotou a água se deve dizer: 'aquabou'?
· Não tendo sucedido em Maio mas em Março o que ele teve foi um desmaio ou um desmarço?
· Quando a paisagem é de admirar constrói-se um admiradouro?
· Mulher desdentada pode usar fio dental?
· A cascavel a quem saiu a casca fica só uma vel?
· As reservas de dinheiro são sempre finas. Será daí que vem o nome: 'finanças'?
· Um tufão pequeno: um tufinho?
· O cavalo duplamente linchado é aquele que relincha?
· Em águas doces alguém se pode salpicar?
· Adulto pratica adultério. E um menor: será que pratica minoritério?
· Um viciado no jogo de bilhar pode contrair bilharziose?
· Um gordo, tipo barril, é um barrilgudo?
· Borboleta que insiste em ser ninfa: é ela a tal ninfomaníaca?
Brincadeiras, brincriações. E é coisa que não se termina. Lembro a camponesa da Zambézia. Eu falo português corta-mato, dizia. Sim, isso que ela fazia é, afinal, trabalho de todos nós. Colocámos essoutro português - o nosso português - na travessia dos matos, fizemos com que ele se descalçasse pelos atalhos da savana.Nesse caminho lhe fomos somando colorações. Devolvemos cores que dela haviam sido desbotadas - o racionalismo trabalha que nem lixívia. Urge ainda adicionar-lhe músicas e enfeites, somar-lhe o volume da superstição e a graça da dança. É urgente recuperar brilhos antigos.Devolver a estrela ao planeta dormente"
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(Amanita Muscaria)

08 fevereiro, 2010

Museu da Fundação Oriente



Ontem, pela primeira vez, fui ao Museu da Fundação Oriente.
Mais um antigo armazém das docas de Alcântara cujo espaço foi revitalizado e transformado numa ampla exposição sobre a presença portuguesa no Oriente e os Deuses da Ásia.
De entrada, duas exposições temporárias: a primeira, sobre a arte da xilografia, a segunda, sobre os selos portugueses no Oriente.
Trata-se de um espaço bem organizado contendo um vasto espólio de peças riquíssimas que vão desde máscaras do Myanmar, aos trajes dos Samurais, de maquetas de igrejas erigidas pelos portugueses em Goa, às divindades asiáticas.
De lamentar apenas a ausência de audiofones para possibilitar uma visita guiada a qualquer hora.

Opinião final: A não perder!

(Amanita Muscaria)

07 fevereiro, 2010

Acordo Ortográfico: Sentimento de união lusófona Vs. Identidade cultural portuguesa

Numa altura em que se perspectiva para breve a entrada em vigor do novo acordo ortográfico e em que se reacendem as vozes discordantes às alterações na grafia do português, decidi investigar qual tem sido a evolução da ortografia portuguesa.

Resumidamente, descobri que, de uma grafia que procurava representar a fonética das palavras, ainda que sem uniformização das várias representações (período fonético), fizemos uma aproximação à origem etimológica das palavras (latim) que conduziu a alguns exageros (como a introdução de letras não pronunciadas), motivada por algum pretensiosismo (período pseudo-etimológico), para culminarmos, em 1911, com uma reaproximação ao período fonético, com algumas especificidades (período simplificado).

Desde então, têm sido feitos sucessivos encontros, maioritariamente com o Brasil, mas também com outros países de expressão portuguesa, no sentido de unificar a língua portuguesa, tendo o encontro mais ambicioso sido realizado em 1986, no Rio de Janeiro (o qual nunca chegou a vingar por oposição do povo português).

O acordo que agora se propõe parece ser um (tímido) compromisso alcançado a partir de concessões feitas às críticas dos opositores do acordo celebrado em 1986. Mais uma vez, as vozes resistentes surgem, principalmente, em Portugal, revelando-se os outros países capazes de avançar com o acordo ortográfico, com ou sem a nossa adesão.

A questão parece centrar-se no que, para cada um de nós, deverá prevalecer: um sentimento de união lusófona que nos impele a derrubar barreiras linguísticas em prol de um maior entendimento entre os cidadãos de língua portuguesa?; ou uma afirmação inequívoca que foi neste pequeno rectângulo, à beira mar plantado, que tudo começou, que daqui partiram os descobridores portugueses que divulgaram a língua que temos e que devemos honrar, mantendo-a na sua essência, sob pena de perdermos a nossa identidade cultural?

Penso que as posições são conciliáveis entre si. E digo-o com sentido orgulho nacional. Existirá maior demonstração de elevação cultural da língua portuguesa do que aquela que nos leva a reconhecer a evolução do nosso dialecto além fronteiras, e a aceitá-lo como válido e capaz de influir na evolução da grafia portuguesa? Acaso as alterações que ora se propõem não constituem apenas mais um estádio de evolução da (luso)grafia, no sentido de aproximação da fonética?

Para visualisar as principais alterações do novo acordo ortográfico ver: http://educaremportugues.blogspot.com/2010/01/o-novo-acordo-ortografico.html
(Amanita Muscaria)