07 fevereiro, 2010

Acordo Ortográfico: Sentimento de união lusófona Vs. Identidade cultural portuguesa

Numa altura em que se perspectiva para breve a entrada em vigor do novo acordo ortográfico e em que se reacendem as vozes discordantes às alterações na grafia do português, decidi investigar qual tem sido a evolução da ortografia portuguesa.

Resumidamente, descobri que, de uma grafia que procurava representar a fonética das palavras, ainda que sem uniformização das várias representações (período fonético), fizemos uma aproximação à origem etimológica das palavras (latim) que conduziu a alguns exageros (como a introdução de letras não pronunciadas), motivada por algum pretensiosismo (período pseudo-etimológico), para culminarmos, em 1911, com uma reaproximação ao período fonético, com algumas especificidades (período simplificado).

Desde então, têm sido feitos sucessivos encontros, maioritariamente com o Brasil, mas também com outros países de expressão portuguesa, no sentido de unificar a língua portuguesa, tendo o encontro mais ambicioso sido realizado em 1986, no Rio de Janeiro (o qual nunca chegou a vingar por oposição do povo português).

O acordo que agora se propõe parece ser um (tímido) compromisso alcançado a partir de concessões feitas às críticas dos opositores do acordo celebrado em 1986. Mais uma vez, as vozes resistentes surgem, principalmente, em Portugal, revelando-se os outros países capazes de avançar com o acordo ortográfico, com ou sem a nossa adesão.

A questão parece centrar-se no que, para cada um de nós, deverá prevalecer: um sentimento de união lusófona que nos impele a derrubar barreiras linguísticas em prol de um maior entendimento entre os cidadãos de língua portuguesa?; ou uma afirmação inequívoca que foi neste pequeno rectângulo, à beira mar plantado, que tudo começou, que daqui partiram os descobridores portugueses que divulgaram a língua que temos e que devemos honrar, mantendo-a na sua essência, sob pena de perdermos a nossa identidade cultural?

Penso que as posições são conciliáveis entre si. E digo-o com sentido orgulho nacional. Existirá maior demonstração de elevação cultural da língua portuguesa do que aquela que nos leva a reconhecer a evolução do nosso dialecto além fronteiras, e a aceitá-lo como válido e capaz de influir na evolução da grafia portuguesa? Acaso as alterações que ora se propõem não constituem apenas mais um estádio de evolução da (luso)grafia, no sentido de aproximação da fonética?

Para visualisar as principais alterações do novo acordo ortográfico ver: http://educaremportugues.blogspot.com/2010/01/o-novo-acordo-ortografico.html
(Amanita Muscaria)

1 comentário:

Anónimo disse...

Fiquei surpreendido pelo tema. O Acordo Ortográfico e as discussões que se têm feito acerca dele, pelo pouco que sei, abordam questões muito especializadas. È um tema que os técnicos da Língua Portugueses dão, talvez, uma importância exagerada. Concordo em parte com a opinião expressa, porém, gostaria de saber porque, à semelhança do que acontece nos países de Língua Espanhola, onde existe um dicionário e uma gramática comuns, não se amplia aquele acordo, dentro dos PALOPs , Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, para também produzir em conjunto um único dicionário e uma única gramática.
O site indicado é muito interessante, mas atrevo-me a enviar um diaporama muito giro e a sugerir que consultem a publicação da Editora Moderna, brasileira, designada por Guia do Acordo Ortográfico de 2008.ORTOGRAFIA ACORDO.pps